segunda-feira, 12 de março de 2018

Um mês depois estávamos à volta da cama prontos a escolher roupa. Depois dos procedimentos legais é sempre da roupa que se trata. Abrimos caixotes, sacos e revirámos gavetas. Separámos roupa, guardámos algumas coisas para nós, outras para dar. Outras para o lixo. Encontrámos recordações que vos démos num passado distante. Encontrámos objectos perdidos na memória. E eis que sai um casaco de homem do guarda-fatos. O meu tio questiona-se se será dele uma vez que aproveitava o espaço para alguns fatos dele, mas ninguém o reconhecia. Por baixo havia um colete. Era um fato de cerimónia. E percebemos que aquele fato deveria ter sido usado apenas uma única vez, há cerca de 60 anos atrás... era o fato de casamento do meu avô. Um silêncio comovido e espantado tomou-nos. Tantos anos depois da morte do meu avô ainda há tanta emoção e amor. E percebemos que este luto, esta arrumação vai ser longa. Porque a minha avó era a última. E nas recordações dela vão estar muitas outras de outras vidas. Do meu avô, da minha mãe, da minha prima, da minha bisavó. Tantas vidas por detrás de uma só. Preciosidades. Um tesouro. A nossa família, viva e morta, toda ali.

2 comentários:

A TItica disse...

Triste, mas lindo :-)

Beijinhos
https://titicadeia.blogspot.pt/

Analog Girl disse...

❤️